quarta-feira, 8 de julho de 2015

25 anos da morte de Cazuza: último show foi em Pernambuco e acabou em confusão. Relembre

Cantor xingou a plateia do Pavilhão do Centro de Convenções, sem economizar nos palavrões, três dias após tirar a roupa em Maceió



Cazuza se apresentou no estado dois dias antes da circulação da polêmica matéria da revista Veja. Foto: Vivacazuza.org/Divulgação

No dia 24 de janeiro de 1989, Cazuza apresentou pela segunda vez em Pernambuco o show O tempo não para, cuja direção era assinada por Ney Matogrosso. O público do Pavilhão do Centro de Convenções foi testemunha de uma briga acirrada com o cantor, que já estava bastante magro, em decorrência da Aids. Os presentes não sabiam, mas aquele seria o último show de um dos principais nomes da musicografia brasileira, morto há exatos 25 anos, no dia 7 de julho de 1990.


A apresentação foi no encerramento do Festival de Verão, em meio à turnê pelo Nordeste. No ano anterior, subiu ao palco do Teatro Guararapes, "num show que se caracterizava pela emoção", de acordo com matéria publicada no dia do espetáculo. O texto assinalava que aquele era o melhor do artista carioca.Vida louca vida, Boas novas, Ideologia, Todo amor que houver nessa vida, Codinome beija-flor, O tempo não para, Só as mães são felizes, O nosso amor a gente inventa (estória romântica), Exagerado e Faz parte do meu show estavam no repertório da noite.

Na sexta-feira, 27, a confusão foi registrada na página B-4 do jornal. "Público enorme iluminou a plateia do show que Cazuza apresentou na terça-feira, no Pavilhão do Centro de Convenções. Houve agressões mútuas. O público agrediu Cazuza porque o espetáculo marcado para 22 horas só começou às 23h. E Cazuza revidou os insultos com palavrões. A loló rolou fácil na plateia. Mas a rapaziada gostou do espetáculo, apesar de tudo. Alegre, contagiante e com muita alegria", revela o texto.

A celeuma também foi abordada na biografia Só as mães são felizes, escrita pela mãe dele, Lucinha Araújo, em parceria com a jornalista Regina Echeverria. "Depois de cantar duas ou três músicas iniciou um monólogo de surdos com a plateia. Cazuza falava em inglês sobre o sucesso da música brasileira no Exterior. Diante das vaias, passou para a fase das agressões. Suas forças, no entanto, foram minguando com o esforço e a raiva. Retirado do palco pela empresária Márcia Alvarez e pela secretária Nandinha, recebeu oxigênio no camarim e insistiu em voltar. Conseguiu. Mas quando cambaleou novamente no palco, o show acabou", recordou a autora.

Depois, o artista pediu desculpas. A agressividade era uma reação ao AZT, medicamento utilizado para tentar conter o vírus HIV. Na obra, a mãe narrou outros momentos de agressividade e mesmo loucura, como vestir um turbante e dizer que era um príncipe árabe. Cazuza não queria parar de trabalhar. "Se acontecer alguma coisa comigo, quero que seja no palco", insistia. Mas o corpo já não respondia à vontade do artista de espalhar música e alegria nos palcos.



Confusão foi registrada no Diario de Pernambuco, na página B4, no dia 27 de janeiro. Foto: Arquivo/DP

"Todos nós sabíamos que o trabalho era uma fonte de energia enorme para o meu filho, mas naquele momento era preciso parar outra vez. Quando fui apanhá-lo no aeroporto na volta de Recife, ele estava bastante nervoso e agitado. Não conseguia parar quieto. Eram dez da manhã, mas ele insistiu para que parássemos num boteco qualquer. Queria tomar cerveja. As palpitações em meu coração de mãe nessa fase não deram trégua. A impotência me roía os pensamen-tos, as intenções. Mas eu ainda acreditava ser possível recuperá-lo. Diante de uma sentença tão avassaladora, num instante em que a realidade não nos interessa e sim a esperança e o sonho, cheguei a acreditar que Deus ainda me concederia poderes divinos para mudar o curso da história. Rodopiar o globo terrestre ao contrário, como o super-homem, e lavar os perigos do passado", detalha a mãe.

Na semana anterior, ele protagonizara um episódio ainda mais polêmico em palco armado na praia da Pajuçara, em Maceió, capital alagoana. Após uma fã jogar uma camisa no palco, ele abaixou a calça e ficou sem cueca. Ele elogiou o então governador do estado, Fernando Collor, e foi vaiado pela plateia.

Poucos meses depois, Cazuza estampou a polêmica reportagem da revista Veja sobre o sofrimento causado pela Aids. A capa Uma vítima da Aids agoniza em praça pública foi tema de um manifesto preparado por Wally Salomão, Antônio Cícero, Nelson Motta e Ronaldo Basto e lido pela atriz Marília Pêra no Prêmio Sharp, no dia 25 de abril. Cazuza passou mal ao ver a matéria, mas compareceu à cerimônia, muito magro e numa cadeira de rodas.

Assista a vídeo da cerimônia de entrega do Prêmio Sharp:


No ano anterior, ele também foi premiado. Veja:


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